Verdadeiro tributo ao génio de Eduardo Souto Moura, a Pousada Mosteiro Amares é um festim para os apreciadores de arquitetura e para os fanáticos do detalhe.
Verdadeiro tributo ao génio de Eduardo Souto Moura, a Pousada Mosteiro Amares é um festim para os apreciadores de arquitetura e para os fanáticos do detalhe. No século XII, nasceu como mosteiro da Ordem de Cister; teve vários acrescentos ao longo do tempo; mas no final do século XX já era apenas uma ruína. Após a extinção das ordens religiosas em 1834, os monges foram expulsos, o mosteiro – conhecido como Convento de Santa Maria do Bouro – foi vendido em leilão, e a decadência instalou-se. Foi como ruína que Souto Moura conheceu o edifício em criança, e contou: “Adorava as árvores a crescer nas paredes.”
Nunca mais se esqueceu. Quando, no final dos anos 80, foi convidado a apresentar um projeto de recuperação do Mosteiro de Amares, Souto Moura partiu de uma ideia radical: “Para o projeto, as ruínas são mais importantes do que o convento.” A aplicação prática deste conceito deu-se em 1997, quando a pousada foi inaugurada, e encontra-se por todo o lado, dos degraus quebrados na escadaria de entrada à cobertura invadida por flores e vegetação; das lajes dos claustros tomadas pelo musgo às portas do século XVIII penduradas nas paredes, como obras de arte.
O resto é uma mistura extraordinária de despojamento e minimalismo: novos tetos feitos com caixotões de aço acobreado, simulando os antigos tetos em madeira; uma chaminé moderna, enorme, reconstruída na antiga cozinha utilizando tijolo de burro; os corredores, larguíssimos, libertos de qualquer decoração; as portas dos quartos de uma elegância extrema, num tributo às antigas celas dos monges; os quartos com tudo o que faz falta e nada que seja inútil; o mármore branco das casas de banho; o pátio das laranjeiras em terra batida; a água da serra que atravessa o claustro; a escadaria que mergulha na piscina; e granito, muito granito, granito por todo o lado. Podemos chamar-lhe uma austeridade de luxo.
Para quem anda à procura do lugar perfeito para organizar uma festa memorável, não vale a pena ir mais longe – é mesmo aqui. A vasta esplanada com vista para o jardim e para a serra do Gerês é magnífica, e a sala dos banquetes, adornada por dois lustres com o dedo de Álvaro Siza Vieira – responsável pela escolha (e também pelo desenho) de boa parte do mobiliário –, fica pregada na memória. São dois prémios Pritzker de mãos dadas, em sete mil metros quadrados de mosteiro. Não acontece todos os dias.
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Pousada Mosteiro Amares
A Pousada Mosteiro Amares é um festim para os apreciadores de arquitetura.