No Largo das Portas do Sol não faltam movimento nem atrações: é o elétrico 28, são os tuk-tuks em fila, são os selfie-sticks em punho, é a música que se sobrepõe de um lado e do outro da praça, é, enfim, a Lisboa cosmopolita e turística em toda a sua intensidade.
Dar nas vistas no meio deste ambiente não é fácil. Mas a Pousada Alfama – a mais recente Pousada de Portugal, aberta desde abril de 2023 – consegue precisamente isso: captar a atenção de turistas e de locais.
A fachada é estreita; porém, com quatro andares, impõe-se pela altura. À entrada fica um pequeno pátio interior, aberto para a rua, com uma muito apetecível esplanada em madeira, pedra e ferro, sobre calçada portuguesa. E depois, numa das paredes, há uma instalação de Bordallo II: um enorme panda construído a partir de plásticos e outros detritos recuperados do lixo e reciclados pelo artista para a coleção Animais em Extinção. É impossível não nos espantarmos com este enorme e colorido “Half Young Panda” (assim se chama a instalação), que dá as boas-vindas a quem chega ao hotel boutique.
Situado no coração da cidade, o edifício centenário que hoje alberga a pousada estava ao abandono. O que ali havia antes eram os restos devolutos de uma grande casa do século XIX, mandada edificar pelo Conde de Murça, sobre sucessivas camadas de construções, que remontam pelo menos à época medieval, como vieram comprovar as escavações que antecederam as obras da pousada.
Às escavações seguiu-se a reabilitação do prédio, num investimento que rondou os 10 milhões de euros. Não podendo crescer para os lados, o edifício subiu e ganhou dois novos pisos. Os 43 quartos estão distribuídos pelos três andares superiores, que dão acesso ao logradouro das traseiras, espaçoso e surpreendentemente tranquilo. Mas a vida da pousada concentra-se no piso térreo, onde o projeto de interiores de Jaime Morais mais brilha.
De portas abertas para o pátio, a sala de refeições e a receção (que funciona simultaneamente como bar) compõem o Manifesto Bar Lounge. As salas são pequenas mas encantadoras, com linhas depuradas em contraste com a decoração, cheia de elementos majestosos, dos lustres aos sofás em veludo. Os bustos, os vasos e os quadros que mais se destacam no espaço vieram do Museu de Lisboa, que os cedeu à Pousada Alfama, contribuindo para a atmosfera simultaneamente acolhedora e sumptuosa de um lugar cercado de História por todos os lados.