O arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer deixou na Madeira o único testemunho do seu génio em território português: o Pestana Casino Park Hotel, impecavelmente integrado na natureza.
“Porque não convidar o Niemeyer?” Em 1965, a família de António Xavier Barreto acabara de comprar o decadente Casino Funchal e procurava maneira de o transformar em hotel, quando, num jantar, o diplomata brasileiro Hugo Gouthier sugeriu que contactassem o consagradíssimo arquiteto, ícone incontestado do modernismo e conhecido comunista. Calhava passar por Portugal na altura, para visitar o amigo, ex-presidente do Brasil e exilado voluntário Juscelino Kubitschek.
Se a sugestão teve tanto de inesperado como de certeiro, a reação dos Barretos, família goesa radicada em Moçambique, não lhe ficou atrás. Pouco depois, dois dos filhos, José e Eurico, reuniam-se com o brasileiro num hotel do Estoril, munidos de plantas topográficas e minuciosas fotografias aéreas. Numa sucessão inacreditável de acontecimentos, Niemeyer aceitava a proposta e marcava nova reunião para Paris. Seria aí, em 1966, perante Eurico Barreto e ao fim de 24 horas de desenha-e-deita-fora que exclamaria: “Que beleza, puta que pariu a natureza”, como contaria Barreto a Carlos Oliveira Santos, autor do livro O Nosso Niemeyer. Em cinco páginas manuscritas e uma maqueta em 3D, estavam delineadas as ideias fundadoras do Casino Park Hotel, inaugurado daí a 10 anos, e único projeto do brasileiro em Portugal, que em 1985 passaria a fazer parte do Pestana Hotel Group.
Uma equipa de exceção
São contraditórias as versões sobre a visita de Niemeyer à Madeira. O próprio lembrava-se de ter ido ao local ainda na fase de projeto do Casino Park. Outros referem que terá passado em escala para o Brasil, já na construção. Assoberbado de trabalho, o brasileiro acabou por delegar o trabalho no português Viana de Lima. O arquiteto do Porto, referência do modernismo em Portugal, foi um dos cúmplices de uma empreitada única, também a nível dos desafios.
Numa altura em que a tecnologia de cálculo era escassa, coube a Madeira Costa, engenheiro do Instituto Superior Técnico, encontrar soluções para concretizar as linhas limpas e sensuais de Niemeyer, que parecem emergir da natureza. Desde o restaurante sobre o oceano, uma plataforma de 3500 metros quadrados sem qualquer pilar, à fachada transparente que envolve o lobby e a imensa escada em espiral.
Para os interiores, a escolha recaiu sobre Daciano da Costa, que fez a ponte entre a racionalidade de Viana de Lima e a sensualidade de Niemeyer com um sem fim de referências: construtivismo holandês e soviético, linguagem cinematográfica, madeiras fortes (sucupira e wenge) e tecidos, lacados e obras de arte delicadas.
O Casino Park Hotel foi projetado nos anos 60 e inaugurou na década de 70.
Desde o restaurante sobre o oceano, há uma plataforma de 3500 metros quadrados sem qualquer pilar.
As referências retro estão presentes em muitos pormenores – como nas escadarias em espiral.
A localização é privilegiada na ilha da Madeira.
A obra de arquitetura mantém-se integrada na natureza envolvente.
Pestana Casino Park Madeira
Um hotel com a assinatura do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer.
