José Theotónio. Os 5 grandes desafios do Grupo Pestana

CEO do Pestana Hotel Group desde 2015, José Theotónio ajudou a transformar uma empresa familiar num negócio multinacional com gestão profissional. Eis o perfil do alentejano de 58 anos que dinamizou a fase mais fulgurante da expansão do grupo.

Muito antes de ser CEO, José Theotónio foi cliente. Como tantos portugueses, não dispensava uma semana de praia no Algarve, e o seu hotel favorito tinha um nome: Alvor Praia, do Pestana Hotel Group, que frequenta desde os anos 90, quando nem sequer imaginava vir a trabalhar na empresa, quanto mais liderá-la.

Só depois do sol e dos banhos de mar é que vieram os números e os ficheiros Excel. No ano 2000, assumiu o cargo de administrador financeiro do grupo, com uma missão fundamental: transformar um conjunto de empresas sem relação direta entre si, com a exceção de partilharem o mesmo acionista, num grupo empresarial no verdadeiro sentido da palavra.

A tarefa parecia talhada à sua medida. José Theotónio formou-se em Administração e Gestão de Empresas pela Universidade Católica, em 1987, onde deu aulas durante 13 anos. Antes de chegar à hotelaria, geriu empresas privadas, trabalhou no setor público e esteve no Governo, já então com um pé na área do Turismo. O convite de Dionísio Pestana para entrar no grupo revelou-se irrecusável.

Por esse motivo, Theotónio é hoje pai de um madeirense de gema e de outro honorário, nascido no continente, mas que passou dez anos na ilha. A criação de um centro de serviços partilhados em Lisboa, em 2010, precipitou o regresso à capital.

O crescimento na década seguinte à sua entrada é vertiginoso: de 3700 quartos no ano 2000, o grupo passa para 9000 em 2012. Em 2015, José Theotónio torna-se CEO. Muita coisa mudou, menos isto: a cada verão, há uma semana de férias garantida no Pestana Alvor Praia.

A criação da holding em 2004

“Em 2000 tínhamos hotéis, golfe, agências de viagens e imobiliárias, mas cada negócio tinha um diretor financeiro e chegavam a competir entre si – faltavam sinergias próprias de um grupo. Algumas empresas tinham sido compradas numa fase menos boa, por isso foram separadas, para proteger o conjunto. A 1 de janeiro de 2004, Dionísio Pestana saiu de todas as empresas e passou a administrar apenas a holding, que controlava tudo. Foi um passo fundamental para a construção de uma empresa familiar com gestão profissional. Hoje, a SGPS já integra 75 empresas.”

A criação dos shared services e o regresso a Lisboa em 2010

“Quando entrei, fui viver para a Madeira. À medida que o grupo crescia, o contingente de colaboradores deslocados aumentava, com os custos correspondentes. Em 2010 chegou o momento de concentrar em Lisboa os processos administrativos que melhoram o negócio: vendas e marketing, reservas e revenue management, finanças, it e recursos humanos. Os bancos também se tinham centralizado e as decisões já só eram tomadas em Lisboa. A sede do Pestana Hotel Group manteve-se na Madeira, mas o grosso dos shared services foi reunido perto do Pestana Palace. Tornámo-nos mais competitivos.”

O primeiro CEO do Grupo Pestana em 2015

“A figura do Chief Executive Officer não existia no grupo e surge quando Dionísio Pestana anuncia o desejo de mudar a gestão, porque as pessoas que fizeram o grupo com ele estavam a aproximar-se da idade da reforma. Nessa nova configuração, ele passa a chairman e presidente da holding, eu fico com o recém-criado cargo de CEO, e José Roquette torna-se Chief Development Officer. Profissionalizar a gestão, com pelouros mais globais na parte da hotelaria e uma maior integração, foi o meu primeiro desafio, acompanhado da criação de uma comissão executiva, que não existia.”

A resposta à pandemia em 2020 e 2021

“A COVID-19 chegou quando tínhamos anunciado a abertura de 20 novos hotéis. Os que estavam a meio foram terminados; os que estavam por arrancar não saíram do papel. A resiliência e força da equipa, e uma sólida gestão financeira e operacional, foram fundamentais para ultrapassar a maior crise de sempre da indústria. Não despedimos trabalhadores dos quadros, mas renegociámos contratos com fornecedores. E apoiámos a comunidade: o Pestana Palace fechou, mas da sua cozinha saíam por dia 400 refeições para associações solidárias. Também disponibilizámos hotéis para médicos que não podiam ir a casa.”

A promoção da cultura e dos valores Pestana

“Podemos chamar-lhes ‘Os Mandamentos Pestana’. Ser colaborativo. Ser apaixonado. Ser eficiente. Ser consciencioso. Ser ágil. Estes são os nossos pilares, que expressamos todos os dias através da forma como agimos, pensamos, nos comportamos e interagimos uns com os outros, e também com os clientes. São os valores que dominam a nossa cultura, é aquilo que nos diferencia. É através deles que conseguimos proporcionar experiências memoráveis, e que criem valor, a todos aqueles que nos procuram.”