“Há muitos membros do staff que nasceram aqui”, conta Renata Neves, assistente de direção. A afirmação é algo desconcertante, mas logo a história trata de apurar os factos: o edifício, que é pousada desde 2009, foi até 1997 o hospital de São Teotónio, pertencente à Santa Casa da Misericórdia. Daí a presença das três estátuas femininas em pedra na fachada, representando a Caridade, a Fé e a Esperança, bem como o brasão da instituição.
Na requalificação do edifício centenário, datado do final do século XIX, o arquiteto Gonçalo Byrne manteve as estruturas novecentistas mais icónicas – como a escadaria semicircular exterior, os azulejos dos corredores dos quartos e as escadas em pedra que ligam os pisos –, colocando-as em diálogo com elementos modernistas. As diferentes fases do trabalho de recuperação do edifício, avaliado em aproximadamente oito milhões de euros, estão expostas pelas paredes da pousada, em fotografias que dão contexto aos espaços.
Do projeto de arquitetura, focado em manter os traços antigos, sobressai a construção de um quarto piso que, sendo recuado e em tons mais escuros, fica camuflado e passa quase despercebido. A engenhosa solução permitiu aumentar o número de dormidas da pousada, sem descaracterizar a planta quadrilonga original.
Os quartos são amplos, revestidos a madeira e com linhas funcionais. Nas zonas comuns, há salas completamente remodeladas, como a do restaurante, e outras em que se preservaram algumas memórias – como os móveis em madeira clara do laboratório hospitalar, atualmente ao serviço da sala de fumo.
No restaurante, aposta-se em produtos tradicionais e locais, usados tanto em pratos clássicos, como a vitela assada à moda de Lafões ou o cabrito beirão, como noutros de interpretação contemporânea, como o pudim de queijo da serra com crumble de canela e sorbet de limão. Com uma vertente enófila forte, a Pousada Viseu tem ainda um wine bar totalmente dedicado aos vinhos do Dão. Ali agendam-se provas comentadas e compram-se vinhos emblemáticos de produtores associados – tanto das casas mais antigas e até históricas como dos projetos mais recentes e irreverentes, que compõem uma região que tem vindo a reinventar-se.
Eduardo Souto Moura não teve outro remédio senão recorrer a fotos antigas para redesenhar a história daquele lugar. O arquiteto portuense privilegiou o minimalismo e os tons suaves, como o branco, o cinzento e o azul. Há quem possa estranhar decisões estéticas como a decoração das casas de banho, que lembram as de uma ala hospitalar, mas a intenção primeira foi a de preservar a memória do lugar.
Conservaram-se, por exemplo, as chamadas varandas de cura do terceiro piso, onde os doentes eram deitados para apanhar sol. Agora, explica Teresa, não só os hóspedes podem relaxar nas espreguiçadeiras, como também beber um vinho beirão numa das mesas de madeira ali colocadas. “Tem de haver um equilíbrio entre a história do sítio e o conforto de um hotel.”
A não perder
Pousada Viseu
Uma Pousada monumental com recuperação do arquiteto português Eduardo Souto Moura.