Quem chega à Covilhã e dirige o olhar para a montanha distingue uma monumental fachada de tons alaranjados, encaixada nas rochas. Ali, um pouco acima dos 1200 metros de altitude, mora o antigo Sanatório das Penhas da Saúde. Erigido entre 1928 e 1936, foi pensado para tratar problemas relacionados com a tuberculose. As memórias do edifício estão descritas numa pequena resenha colocada em cada um dos atuais 92 quartos da Pousada Serra da Estrela.
Aberta em 2014, a unidade é muito procurada por famílias que, a reboque dos filhos ansiosos por brincar na neve, se deslocam até ao ponto mais alto de Portugal continental. “São eles que comandam os pais para este destino”, diz Teresa Silveira, gerente da pousada, lembrando que a serra da Estrela também é bela no tempo quente.
No verão, explica, há um animador dedicado a organizar atividades de reconhecimento do parque com os mais pequenos. Para os adultos, há trilhos com vistas de cortar a respiração, como o que vai dar ao miradouro do Alto dos Livros, de onde é possível ver, nos dias de céu limpo, as serras de Espanha.
O edifício original foi construído entre as décadas de 1920 e 1930, com um projeto do arquiteto Cottinelli Telmo. Dos elementos originais do sanatório, restam as estruturas em ferro dos dois elevadores e mantêm-se as linhas da imponente fachada, que se estende por mais de 160 metros. Até 2011, data em que o Grupo Pestana iniciou a recuperação do edifício, ele esteve ao abandono por mais de quatro décadas, tendo apenas reaberto para os tradicionais Carnavais da Neve, do Clube Nacional de Montanhismo da Covilhã, e para albergar 700 retornados no pós-25 de Abril.
Eduardo Souto Moura não teve outro remédio senão recorrer a fotos antigas para redesenhar a história daquele lugar. O arquiteto portuense privilegiou o minimalismo e os tons suaves, como o branco, o cinzento e o azul. Há quem possa estranhar decisões estéticas como a decoração das casas de banho, que lembram as de uma ala hospitalar, mas a intenção primeira foi a de preservar a memória do lugar.
Conservaram-se, por exemplo, as chamadas varandas de cura do terceiro piso, onde os doentes eram deitados para apanhar sol. Agora, explica Teresa, não só os hóspedes podem relaxar nas espreguiçadeiras, como também beber um vinho beirão numa das mesas de madeira ali colocadas. “Tem de haver um equilíbrio entre a história do sítio e o conforto de um hotel.”
A não perder
Pousada Serra da Estrela
Uma Pousada monumental com recuperação do arquiteto português Eduardo Souto Moura.