No Alentejo não faltam vilas surpreendentes, mas poucas são tão surpreendentes quanto Marvão. A viagem começa em baixo, no sopé da serra do Sapoio, de onde a vila parece um postal. Situada a 860 metros de altitude, no cimo de rochas graníticas, dali se podem ver quilómetros de planície alentejana e espanhola.
À entrada pelas muralhas seguem-se ruas estreitas e labirínticas. A subida é íngreme e ziguezagueante até à pousada, mas vale a pena ir reparando nas diferentes paisagens, a cada curva. Fica o aviso à navegação: convém dominar pontos de embraiagem e manter a calma durante as múltiplas (e inevitáveis) razias.
A Pousada Marvão fica na rua 24 de Janeiro, mas qualquer marvanense se refere a ela como “a rua da pousada”, já que, de um lado e de outro, praticamente todas as portas vão lá dar. Do lado direito, ficam a receção e as zonas comuns da pousada, além de uma mão-cheia de quartos, no primeiro andar. Do lado de lá da rua, está instalada uma zona mais recatada, com quartos distribuídos ao longo de um comprido corredor.
Estranha divisão? É fácil de explicar. A primeira versão desta pousada resulta de uma antiga estalagem, fundada por Jeremias da Conceição Dias, numa mistura de amor à terra com sentimento de injustiça. Nos anos 40, foi anunciada pelo Estado a construção de uma pousada em Marvão – cujas obras chegaram a iniciar-se, no alto da vila, junto às muralhas –, mas que acabou por não avançar. Em 1952, indignado com a falta de oferta hoteleira na vila, Jeremias da Conceição Dias decidiu abrir na sua própria casa o primeiro hotel de Marvão, com apenas cinco quartos, além da sala de estar. Em 1962, o espaço foi ampliado: ganhou três quartos e um restaurante, construído no antigo terraço. A estalagem chamava-se então Ninho de Águias – um dos cognomes da vila – e apregoava em cartazes publicitários que era “a varanda do Alto Alentejo” e “a mais próxima do céu”.
Seguiram-se ampliações nas décadas de 80, 90 e 2000, quando se foram anexando, um a um, blocos adjacentes aos da pousada. Atualmente, são cinco os edifícios que compõem a unidade hoteleira, que conta com 28 quartos e três suítes, além de salas de estar, um bar e um restaurante. O nome – Pousada Marvão – é hoje menos metafórico e mais autoexplicativo, mas continua a ser a melhor varanda do Alentejo.